A ameaça do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar tarifas de até 50% sobre as importações da União Europeia (UE) pode estar abrindo caminho para a aprovação do aguardado acordo de livre comércio entre o Mercosul e o bloco europeu. A avaliação é de especialistas em comércio internacional, que observam uma mudança de clima político, principalmente na França.
O tema deve ganhar ainda mais destaque com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à França nesta quarta-feira (4/6). Apesar das boas relações bilaterais, o presidente francês, Emmanuel Macron, tem sido um dos principais opositores do tratado firmado em dezembro passado, após mais de duas décadas de negociações. Macron classificou o texto como "inaceitável", principalmente sob pressão de agricultores e ambientalistas.
No entanto, a recente investida tarifária dos EUA, que inicialmente previa sobretaxas de 25% e agora aponta para 50% sobre produtos europeus, acendeu o alerta na Europa. A medida afeta diretamente setores importantes da economia francesa e alemã, como o automotivo, de transporte e vinhos. Segundo o economista Antoine Bouët, diretor do CEPII (Centro de Estudos Prospectivos e Informações Internacionais), “a decisão americana suscita reflexões estratégicas na Europa sobre a necessidade de buscar novos parceiros comerciais”.
Internamente, o setor industrial francês pressiona o governo para avançar com o acordo com o Mercosul. Macron, que não conta com maioria no Parlamento e enfrenta dificuldades políticas, pode tentar renegociar alguns pontos do tratado para apresentar à população uma vitória política, mesmo que simbólica.
Ainda há resistência por parte de países como Polônia e Itália, mas o cenário internacional pode acelerar mudanças. O ministro francês das Finanças, Éric Lombard, em reunião com o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, chegou a reconhecer que é preciso "apressar" as discussões. Ainda assim, reforçou que faltam ajustes, principalmente nas áreas ambiental, agrícola e industrial.
Para entrar em vigor, o tratado precisa da aprovação do Conselho Europeu e do Parlamento Europeu. Mas, com a pressão americana aumentando e a Europa buscando caminhos para proteger sua economia, o acordo com o Mercosul pode, enfim, ganhar tração.