A turbulência na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ganhou um novo capítulo com o nome de Samir Xaud, presidente eleito da Federação Roraimense de Futebol (FRF), ganhando força como possível substituto de Ednaldo Rodrigues, afastado do cargo por decisão judicial. Apoiado por 19 federações estaduais, Xaud surge como símbolo de renovação, mas também levanta dúvidas sobre sua representatividade e o peso político de sua federação de origem.
O movimento em apoio a Samir foi oficializado na noite de quinta-feira (15), por meio de um manifesto assinado pelas federações. No texto, os dirigentes defendem uma “renovação de ideias e lideranças” e a profissionalização definitiva da entidade. Aos 40 anos, Xaud representa uma nova geração de gestores, o que agrada parte do colégio eleitoral. Fora do futebol, ele atua como médico infectologista e empresário no ramo de treinamento esportivo.
Apesar da mobilização favorável, a candidatura de Samir enfrenta obstáculos. Clubes consultados pelas federações manifestaram resistência à sua indicação, alegando preocupações com possível interferência política. O peso reduzido de Roraima no cenário nacional também é citado como ponto fraco. A FRF tem apenas 10 clubes filiados, e na eleição recente, 9 votaram em Samir — o Monte Roraima esteve ausente.
Hoje, apenas um clube roraimense, o GAS, participa do Campeonato Brasileiro (Série D). Outros representantes históricos como São Raimundo, Baré, Náutico e Atlético Roraima não disputam divisões nacionais há anos. O histórico limitado no futebol de alto nível nacional é visto por muitos como entrave à legitimidade de uma candidatura de grande alcance.
A data da eleição ainda não foi definida. Cabe ao vice-presidente Fernando Sarney, atual interventor da CBF nomeado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), marcar o pleito. Segundo ele, o ideal é que a votação aconteça “o quanto antes”. Apesar de elogiar Samir como “um bom nome”, Sarney já garantiu que não será candidato.
Nos bastidores, outros nomes são ventilados, como o de Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), que também conta com articulações, principalmente entre clubes da Liga Forte União (LFU). Ele já havia tentado se lançar em 2023, mas agora volta ao cenário fortalecido.
Outro nome que chegou a ser cogitado é o de Flávio Zveiter, ex-presidente do STJD, que se apresentou como pré-candidato na primeira crise de Ednaldo, mas descartou concorrer desta vez.
O afastamento de Ednaldo Rodrigues tem origem em suspeitas sobre a legalidade de sua eleição. O STF determinou ao TJ-RJ que investigasse se a assinatura de Antônio Carlos Nunes de Lima, o "Coronel Nunes", usada no acordo que garantiu Ednaldo no cargo em 2022, foi falsificada. Um laudo anexado ao processo levanta dúvidas, indicando déficit cognitivo do dirigente octogenário após cirurgia cerebral.
O caso também envolve o ministro Gilmar Mendes, relator do processo no STF, criticado por possível conflito de interesses devido a relações comerciais entre a CBF Academy e o Instituto IDP, fundado por ele. Uma reportagem da Revista Piauí revelou ainda pagamentos suspeitos da CBF a advogados e denúncias de práticas autoritárias na gestão de Ednaldo.
A entidade rebateu as acusações em nota oficial no início de maio, negando acesso à perícia e afirmando que o uso do laudo é "midiático e precipitado".