Pacientes com diabetes em Franca (SP) vivem um cenário de incerteza e desespero. Desde o início do ano, moradores relatam a falta de insulina, cateteres, cânulas e outros insumos essenciais para o controle da doença na rede pública de saúde — mesmo quando há decisão judicial obrigando o fornecimento.
Com a ausência dos itens nas farmácias de alto custo, famílias estão desembolsando até R$ 3,5 mil por mês para manter o tratamento por conta própria. O drama atinge desde crianças até idosos, muitos dos quais fazem uso de bombas de insulina, equipamentos que exigem um conjunto completo de suprimentos para funcionar.
A auxiliar odontológica Sabrina Araújo, que usa bomba de insulina há 10 anos, conta que não consegue retirar nenhum material na farmácia do alto custo do Departamento Regional de Saúde (DRS).
“Nenhum insumo, nenhum cateter, nenhuma cânula, um reservatório, e muito menos a insulina”, relata.
A situação é semelhante à vivida pela aposentada Juliana Costa Neto, que convive com a doença há 32 anos. Ela recebeu a bomba de insulina por meio do SUS, mas nunca conseguiu utilizá-la, porque os insumos não são entregues.
“É uma ironia. A bomba chegou, mas sem insulina não tem como usar. Vou me virando com as canetas enquanto ainda tem.”
A professora Cristina Soares, mãe de uma jovem com diabetes tipo 1, diz que só consegue manter o tratamento com ajuda financeira de terceiros.
“É desesperador. Minha filha não vive sem insulina. Se ela ficar um dia sem, ela pode morrer.”
Já Marilza Guiraldeli, mãe de uma jovem que usa bomba há três anos, relata que as respostas dos órgãos públicos são sempre vagas:
“Dizem que compraram, que está chegando... mas desde o começo do ano é a mesma coisa.”
Apesar de haver ordens judiciais determinando o fornecimento imediato dos insumos, as decisões não vêm sendo cumpridas. A advogada Cristiane Freitas explica que os pacientes devem documentar todas as tentativas de retirada dos materiais, bem como os gastos com compras feitas por conta própria, para recorrer novamente à Justiça.
“O ideal é apresentar esses comprovantes e solicitar o reembolso, além do fornecimento imediato, com aplicação de multa ou bloqueio de verba pública”, orienta.
O Departamento Regional de Saúde (DRS) de Franca informou que está avaliando o remanejamento dos insumos enquanto os processos de compra seguem em andamento. Sobre as ordens judiciais, o órgão diz que é necessário abrir licitações para cumpri-las.
A Secretaria Municipal de Saúde de Franca, por sua vez, afirmou que fornece os insumos na Casa do Diabético, e que apenas o sensor de glicemia está em falta, mas já foi adquirido.